“...aprendi
a viver contente em toda e qualquer situação. Tanto sei estar humilhado como
também ser honrado; de tudo e em todas as circunstâncias, já tenho experiência,
tanto de fartura como de fome; assim de abundância como de escassez” (vv.
11 e 12 - ARA).
A
grande maioria dos teólogos acredita que Paulo escreveu a Epístola aos
Filipenses durante uma de suas prisões, talvez em Roma ou Éfeso. Segundo
Francis Davidson¹, “Houve duas razões
principais que induziram o apóstolo a escrever aos filipenses. A primeira, para
hipotercar-lhes sua gratidão pelo fato de eles, simpatizando com seu apostolado
e partilhando de suas aflições, lembrarem-se de enviar-lhe algumas dádivas por
intermédio de Epafrodito, um de seus membros (Fil. 4:10-18). A segunda, para
corrigir algumas pequenas desordens existentes no seio da igreja”. Nas
palavras do saudoso Merril Frederick Unger², “...Seu tema é a adequação de Cristo a todas as experiências da vida –
privação, perseguição, dificuldades, sofrimento e também prosperidade e
popularidade. Cristo dá alegria e triunfo venha o que vier, desde que a ele se
conceda o centro da vida” . Portanto, Paulo escreveu palavras motivadoras aos
seus leitores, em meio à intensa tribulação a que estava condicionado no
momento!
Analisando
criteriosamente o contexto literário e histórico, pode-se concluir que a
expressão paulina “Tudo posso naquele que
me fortalece” (Filipenses 4.13 – ARA) não diz respeito ao “poder de
conquistar todas as coisas”, como pregam os “apóstolos modernos”, mas sim, ao
“poder de enfrentar e suportar todas as situações em Cristo”. David H. Stern³
comenta o referido texto bíblico da seguinte forma:
“O cristianismo é acusado de estimular tanto
o ascetismo quanto a ganância. O ensino destes versículos, baseados em
experiência pessoal (detalhada em 2Co 11:21-33), é o de que o Messias oferece
poder para se enfrentar tanto a escassez quanto a fartura, na verdade o poder
para todas as coisas”
.
O
teólogo pentecostal David Demchuk4, após tecer uma breve crítica ao frequente
mau uso do texto de Filipenses 4.13, deixa claro seu entendimento, nas palavras
a seguir transcritas, de que a expressão contida no referido texto diz respeito
à capacidade que Paulo tinha recebido do senhor Jesus, o Cristo, para enfrentar
todas as adversidades da vida:
“Em uma conclusão triunfal, o verso 13 revela
a principal fonte do contentamento de Paulo: “Posso todas as coisas, naquele
que me fortalece”. Este contexto do verso tem sido frequentemente transgredido,
e esta verdade tem sido colocada a serviço de extravagâncias caprichosas. O apóstolo
está claramente se referindo à grande variedade de suas próprias experiências
(v. 12). A importância do verso 13 é encontrada no fato dessa capacidade de
Paulo lutar com as adversidades da vida não ter sido alcançada por meio da
auto-suficiência (como os estóicos ensinavam), mas através da suficiência em
Cristo. Este fortalecimento foi parte da experiência cristã contínua de Paulo e
estava fundamentado em sua união com Cristo”.
Concluindo,
pode-se dizer, sem dúvida alguma, que a expressão paulina “Tudo posso naquele que me fortalece” (Filipenses 4.13 – ARA), ao
contrário do que se prega atualmente, é uma das maiores expressões de fé para
aplicação prática na vida diária de cada cristão, pois ensina a confiar no Deus
Eterno em quaisquer situações, acreditando que Ele, embora não livre seus
filhos de sofrer dificuldades na vida, outorga poder para enfrentá-las e suportá-las
sempre.
JORGE
CARVALHO
BIBLIOGRAFIA:
1. DAVIDSON, Francis.
O Novo Comentário da Bíblia, 3.ª
Edição, São Paulo, SP: Editora Vida Nova, Editado em português pelo Dr. Russel
P. Shedd, 1995, Reimpressa em 2003, p. 1269.
2. UNGER, Merril
Frederick. Manual Bíblico Unger,
Reimpressão Revisada da 1.ª Edição, São Paulo, SP: Editora Vida Nova, Revisada
por Gary N. Larson, 2008, p.555.
3. STERN, David H.. Comentário Judaico do Novo Testamento,
1.ª Edição Brasileira, São Paulo, SP: Editora Atos, 2008, p. 650.