“apascentai o rebanho de Deus que está
entre vós, tendo cuidado dele, não por força, mas voluntariamente; nem por
torpe ganância, mas de ânimo pronto; nem como tendo domínio sobre a herança de
Deus, mas servindo de exemplo ao rebanho” (1Pedro 5.2,3 -
ARA).
INTRODUÇÃO: É fato notório que a primeira epístola geral do apóstolo
Pedro foi escrita para orientar e confortar cristãos, espalhados pela região
central e ocidental da Turquia (1Pe.1.1), que estavam passando por muitos
problemas capazes de colocar sua fé à prova, especialmente a perseguição romana
que os oprimia por se declararem cristãos. Isto certamente aconteceu lá pelos
idos de 64 ou 65 d.C., aproximadamente, mas a referida carta pastoral deve ter
servido para orientar muitas outras igrejas da época. Ao escrever suas
orientações aos líderes de diversas igrejas no capítulo 5, certamente Pedro
desejou incentivá-los a serem motivadores dos cristãos que estavam sob suas
responsabilidades, pois estavam sendo tentados a abandonarem a fé por causa das
sérias perseguições e provações. Se isso for verdade, nos leva à certeza de que
a igreja deve ser um local de motivação do exercício da vida cristã, sendo que
e a liderança deve ser um instrumento motivador e não opressor, mesmo nos dias
atuais, haja vista que a pressão do mundo ainda tenta arrancar as pessoas das
igrejas, podendo esta força ser impedida através de uma forma amorosa e
misericordiosa de apascentar por parte dos seus pastores. Não existe coisa pior
do que alguém estar sendo afligido por sérias tribulações e, ao invés de achar
alívio e compreensão nas igrejas, encontra opressões muito piores do que as infligidas
pelo mundo. O texto bíblico acima transcrito nos ensina ainda o seguinte:
I – AS OVELHAS PERTENCEM UNICAMENTE A DEUS: Os filhos de Deus
são comparados na Bíblia a ovelhas. Russell Norman Champlin assevera que “...Na tradição hebreu-cristã, é comum
pintar a comunidade religiosa como um “rebanho de ovelhas”...” (O Novo
Testamento Interpretado Versículo por Versículo, Volume 6, São Paulo, SP:
Editora Hagnos , 2002, p. 163). Sendo assim, devemos ter
consciência plena de que os membros das igrejas formam “...o rebanho de Deus...” (v. 2) e “pertencem unicamente a Deus”. Desta
forma, todos os líderes cristãos têm uma grande responsabilidade de administrar
bem aquilo que “não lhes pertence”. A ordem que o senhor Jesus deu a Pedro foi:
“...apascenta os meus cordeiros...”; “...apascenta
as minhas ovelhas...” (Jo. 21.15-17 - ARA). O Senhor confere grande responsabilidade
a seus pastores ao colocar suas ovelhas (seus filhos) aos seus cuidados,
observando sempre com olhar zeloso. O Novo Comentário da Bíblia observa o
seguinte: “...Note-se que o rebanho é de
Deus, não do ancião; Deus não fica indiferente ao modo como Suas ovelhas são
tratadas...” (3.ª Edição. São Paulo, SP: Editora Vida Nova, 1995,
Reimpressa em 2003, p. 1416). Portanto, Deus zela pelos seus filhos e jamais
deixará impune os atos de negligência ou de abuso de autoridade dos pastores.
II
– APASCENTAR É ALIMENTAR E CUIDAR DAS OVELHAS DE DEUS: A
função do apascentador é cuidar de rebanhos de ovelhas. Como já mencionado
anteriormente, os crentes em Jesus são comparados a ovelhas. Segundo o Novo
Comentário da Bíblia, a função do líder cristão é “...alimentar o rebanho de Deus (2), isto é, fazer todo o trabalho de
pastor...” (Vide, p. 1416). Conforme os preciosos ensinamentos de Merril
Frederick Unger, “Os presbíteros (ou
bispos, evidentemente o mesmo posto) são exortados a apascentar o rebanho de
Deus, assumindo a responsabilidade de supervisionar o “rebanho de Deus” (a
comunidade dos crentes)...” (Manual Bíblico Unger. Reimpressão Revisada da
1.ª Edição. São Paulo, SP: Editora Vida Nova, 2008, p. 649). Conforme bem
exposto no Comentário Bíblico Pentecostal, “...com
base no cuidado pastoral de Deus e de Jesus, os apóstolos e os presbíteros são
subpastores que exercem o cuidado pastoral pelo povo de Deus...” (4.ª
Edição. Rio de Janeiro, RJ: Editora CPAD, 2006, p. 1726) e, como nos orienta Russell
Norman Champlin, “...isso não pode ser
realizado à parte do amor de Cristo e do amor aos homens, com a inspiração da
parte de seu Santo Espírito...” (Vide, p. 163). A obra do apascentador é o
cuidado das ovelhas em todos os aspectos da vida, mas, em especial, mais ativamente
em relação à vida espiritual, porém não podendo ser negligente em frente às
necessidades materiais dos pastoreados. O Dicionário Vine, após definir o termo
“apascentar” (gr. boskõ ou poimainõ), apresenta seguinte nota: “...A lição a ser aprendida, como ressalta
Trench (New Testament Synonyms, § XXV), é que, no cuidado espiritual dos filhos
de Deus, a “alimentação” do rebanho proveniente da Palavra de Deus é a
necessidade constante e regular; é ter o principal lugar. O pastoreio (que o inclui)
consiste em outros atos, em disciplina, autoridade, restauração, ajuda material
a indivíduos, mas são incidentais em comparação com a “alimentação”.... (7.ª
Edição. Rio de Janeiro, RJ: Editora CPAD, 2007, p. 404).
III
– O PASTOREIO DEVER SER FEITO VOLUNTARIAMENTE: O
ministério de pastoreio do rebanho do Senhor não deve ser feito por “obrigação
ou força” (Gr. Anagkastos), mas sim
de forma voluntária por aqueles que realmente são vocacionados por Deus. Merril
Frederick Unger assevera que a atuação dos presbíteros deve ser “...voluntariamente, e não por obrigação, e
de bom grado...” (Vide, p. 649). A voluntariedade é um sentimento produzido
pelo Espírito Santo de Deus no íntimo do ser humano, fazendo com que o
verdadeiro líder vocacionado se desprenda de interesses terrenos e passe a
exercer uma obra puramente espiritual e baseada no amor. Russell Norman
Champlin diz, com muita propriedade, que “...A
inspiração do pastor, em seu trabalho de amor, deve provir do íntimo, fluente e
sem empecilhos, sem obstáculos de ordem pessoal. Isso sugere que todo o serviço
prestado por ele deve ser um subproduto do desenvolvimento espiritual, de tal
modo que seja uma obra “espiritual”, e não carnal. Tudo quanto um homem faz
depende de sua experiência pessoal com o Espírito de Deus. Sem isso, o serviço
espiritual seria motivado por considerações errôneas...” (Vide, p. 163).
IV
– O PASTOREIO NÃO PODE SER FEITO POR TORPE GANÂNCIA: O
pastoreio não deve ser feito motivado pelo desejo de benefício material ou
financeiro, mas sim, de “ânimo pronto” (boa vontade), ou seja, como consta no
Comentário Bíblico Pentecostal, “...ao
invés de exercer seu ofício por vantagens econômicas, os presbíteros devem
servir “voluntária, pronta e livremente”...” (Vide, p. 1726). Para Merril
Frederick Unger os presbíteros devem atuar “...sem
ser motivados por pensamentos de (vil) ganho pessoal...” (Vide, p. 649). A
palavra “ganância” (gr. aischrokerdõs),
contida no texto bíblico em comento (v. 2), significa, segundo o Dicionário
Vine, “...avidez por lucro vil...”
(Vide, p. 672). Portanto, o verdadeiro pastor não carrega em seu coração o
desejo de benefício material em razão do seu ministério, embora seja digno de
um salário condizente com a importância de seu mister (Lc. 10.7 e 1Tm. 5.18), mas sim, trabalha com
objetivo único de cuidar com zelo das almas que lhes são confiadas por Deus.
V
- O PASTOREIO NÃO PODE SER FEITO ATRAVÉS DO DOMÍNIO: Administração
dos santos não deve ser feita com atitude de “domínio” (gr. Katakurieuo), pois os líderes cristãos
não são proprietários das ovelhas que foram colocadas ao seu cuidado e que,
como já dito alhures, pertencem exclusivamente a Deus. É fato certo que o poder
tem a capacidade de corromper o ser humano e o desejo pelo poder faz com que
líderes atuem como verdadeiros ditadores nas igrejas cristãs. Russell Norman
Champlin, ao comentar o texto em epígrafe, assevera que “...alguns pastores se transformam em “pequenos cesares” na igreja,
agindo como se a igreja fosse um pequeno reino sob sua soberania...”. Ainda,
complementado, diz que “...tais homens
perdem a capacidade de arbítrio, e temem perder os seus poderes...”, “...pois, que o poder pode corromper até
mesmo homens espirituais...” (Vide, p. 164). O verdadeiro líder espiritual
busca constantemente a humildade e procura agir baseado no amor, na pasciência
e na misericórdia.
VI
- O PASTOREIO DEVE SER FEITO PELO EXEMPLO: Os verdadeiros
líderes, que realmente exercem a liderança ministerial de acordo com os
princípios ensinados por Pedro, são aqueles que “...se tornam líderes pelo próprio exemplo que dão ao povo...”
(Comentário Bíblico Pentecostal, Vide, p. 1726) e não pelo fato de serem
detentores de autoridade. O verdadeiro líder não impõe sua autoridade, mas
apenas serve de exemplo, pois, como observa Champlin, “...assim como o bom pastor não empurrava suas ovelhas, mas antes, ia
adiante delas no caminho (ver João 10.4), assim também deve fazer o pastor no
caso de sua congregação...” (Vide, p. 164).
CONCLUSÃO: O
ministério pastoral só poder ser exercido por vocação divina e a convicção
nasce no coração do escolhido através da atuação do Espírito Santo de Deus.
Quando existe vocação divina, o pastor exerce o ministério de maneira
voluntária e sem vislumbrar benefício material ou financeiro. Age motivado pelo
amor e busca conduzir o rebanho com zelo e através de seu exemplo de vida.
Jorge Carvalho